A palavra de ontem foi SISMO, um termo técnico que descreve um tremor de terra. Mas a sua história mostra-nos que um sismo pode abalar muito mais do que o chão: pode abalar os próprios fundamentos da fé e da filosofia.

A Origem do Abalo

"Sismo" vem diretamente do grego seismós (σεισμός), que significava "abalo", "choque" ou "terramoto". É a mesma raiz que encontramos em "sismógrafo", o aparelho que mede a intensidade destes abalos. É uma palavra que carrega a força súbita e incontrolável da natureza.

O Sismo que Mudou o Pensamento Europeu

Na história de Portugal, e do mundo, poucos sismos foram tão devastadores como o Grande Terramoto de Lisboa de 1755. Ocorrido no Dia de Todos os Santos, o terramoto foi seguido por um maremoto e incêndios que destruíram a capital de um vasto império.

A catástrofe não foi apenas física. Ela gerou uma profunda crise filosófica na Europa. Como podia um Deus bom e todo-poderoso permitir tamanha destruição numa cidade tão católica e num dia santo? Este evento abalou a fé no otimismo e na providência divina, influenciando pensadores do Iluminismo como Voltaire, que o discutiu extensivamente na sua obra Cândido. O sismo de Lisboa marcou, assim, o início de uma nova forma de pensar sobre a natureza, o mal e o lugar do Homem no universo.

Gravura do século XVIII mostrando a cidade de Lisboa em ruínas e a ser engolida pelo mar durante o terramoto de 1755.
O Terramoto de Lisboa de 1755, numa gravura da época. Um evento que abalou mais do que edifícios.

Desta forma, a palavra "sismo" transcende a geologia. Representa um ponto de viragem, um momento em que a força da Terra nos obriga a repensar tudo aquilo em que acreditamos.