A palavra de ontem foi OLHAR. Mais do que a simples ação de ver, o olhar carrega intenção, sentimento e poder. Um olhar pode confortar, intimidar, apaixonar ou condenar. É uma das formas mais diretas de comunicação que possuímos.
A Ação do Olho
A etimologia de "olhar" é direta e reveladora. Vem do latim vulgar oculāre, um verbo que significava "usar os olhos" ou "olhar para", derivado diretamente de oculus, a palavra latina para "olho". A nossa palavra "olho" partilha a mesma raiz. Assim, na sua génese, "olhar" é simplesmente a função do olho.
No entanto, as culturas sempre entenderam que esta função era especial. A ideia de que os olhos são as "janelas da alma" mostra como, desde cedo, associamos o ato de olhar à revelação do mundo interior de uma pessoa.
O Labirinto de Olhares em "Las Meninas"
Na história da arte, nenhuma obra explorou a complexidade do olhar de forma tão profunda como "As Meninas" (1656), do pintor espanhol Diego Velázquez. Mais do que um retrato da corte, a pintura é uma meditação sobre o próprio ato de olhar.
Velázquez cria um labirinto de olhares cruzados. A Infanta Margarida e algumas das suas aias olham diretamente para nós. O próprio Velázquez, à esquerda, interrompe a sua pintura para nos encarar. Ao fundo, um espelho reflete o casal real, o Rei Filipe IV e a Rainha Mariana, que estariam na mesma posição que nós, os observadores. Somos apanhados numa teia: olhamos para a cena, mas a cena olha de volta para nós. O nosso olhar não é passivo; ele completa o significado da obra, tornando-nos participantes no momento.

"Olhar" começa com a biologia do olho, mas floresce na psicologia da perceção. Como Velázquez demonstrou de forma genial, olhar nunca é um ato neutro. É uma ponte, um desafio e um reflexo de quem somos. É a palavra que nos lembra que, ao vermos o mundo, o mundo também nos vê a nós.