A palavra de ontem foi REPOR. É um verbo de equilíbrio e correção. Usamo-lo para repor um livro na estante, repor as energias ou repor a verdade. Em cada uso, há uma ideia de retorno a um estado correto, a um lugar de pertença.
Pôr de Volta no Lugar
A etimologia de "repor" é transparente e lógica. Vem do latim repōnere, formado pelo prefixo re- ("de novo", "para trás") e pelo verbo pōnere ("pôr", "colocar"). O seu significado literal é, portanto, "pôr de novo" ou "pôr de volta no seu lugar".
Esta ação simples de colocar algo onde estava antes expande-se para conceitos mais abstratos e profundos. Repor a ordem, repor a confiança, repor a justiça — em todos estes casos, falamos de restaurar um estado ideal que foi perdido.
Repor a Arte, Restaurar a História
Poucas histórias ilustram o poder da palavra "repor" de forma tão pungente como a da arte pilhada pelos Nazis durante a Segunda Guerra Mundial. Uma das mais célebres é a do quadro "Retrato de Adele Bloch-Bauer I", de Gustav Klimt, também conhecido como a "Dama Dourada".
Esta obra-prima foi roubada da família judia Bloch-Bauer em Viena, em 1938. Durante décadas, foi tratada como um tesouro nacional austríaco, enquanto a sua verdadeira história era apagada. Foi necessária uma longa e árdua batalha legal por parte da sobrinha de Adele, Maria Altmann, para que a justiça fosse feita. Em 2006, os tribunais decidiram que a obra deveria ser reposta na posse dos seus legítimos herdeiros. Este ato não repôs apenas um quadro; repôs a dignidade, a memória de uma família e um pedaço da verdade histórica.

Assim, "repor" transcende a sua simplicidade. É um dos verbos mais fundamentais do nosso desejo de ordem e justiça. A história da "Dama Dourada" ensina-nos que o ato de "pôr de volta no lugar" pode, por vezes, corrigir os maiores erros da História.